Imunoalergologista
HPA Magazine 14
A modificação dos hábitos alimentares na Era Moderna, com a introdução de novos ingredientes e a crescente utilização de produtos processados, aumentou significativamente a frequência de reações indesejadas associadas a alimentos. Agora, uma nova ferramenta online pode ajudar a identificar onde se encontram os mais perigosos.
As reações adversas devido a alimentos podem ser divididas em dois tipos: as alérgicas (Alergias Alimentares) e as não-alérgicas (normalmente também chamadas de Intolerâncias Alimentares).
A Alergia é uma resposta exagerada e inadequada do sistema imunitário contra substâncias inofensivas do meio ambiente. Numa situação normal, o organismo combate agentes que possam causar doenças, como bactérias ou parasitas e “tolera” substâncias benéficas como os alimentos. Normalmente existe uma tendência familiar, ou seja, um risco genético para a sua ocorrência. A alergia alimentar afeta aproximadamente 5% das crianças e 3-4% dos adultos nos países ocidentais. A sua frequência parece estar a aumentar e as reações parecem estar a tornar-se mais graves, apesar de ainda não haver uma explicação definitiva para este aumento.
A Intolerância a um alimento, não está relacionada com o sistema imunitário - resulta de erros na digestão ou metabolismo dos alimentos. Quando se fala de intolerâncias alimentares não se fala de uma doença única, mas de um conjunto de problemas diferentes que resultam em sintomas desagradáveis devido a um alimento. Normalmente os sintomas não ocorrem em todas as ocasiões em que há ingestão e são habitualmente necessárias quantidades razoáveis do alimento para ocorrer sintomas. Apesar de serem menos graves que as reações de alergia alimentar, podem também afetar muito a qualidade de vida.
Os tipos mais comuns de intolerância ocorrem devido à falta de uma enzima necessária para a digestão de um componente/parte de um alimento. Um exemplo típico é o caso da intolerância à lactose, que se deve à perda da atividade enzimática da lactase, uma molécula responsável pela digestão da lactose, um açúcar do leite.
A intolerância alimentar também pode resultar da própria composição química do alimento - alguns alimentos são muito ricos em aminas (enlatados, alguns peixes, morangos ou citrinos), cafeína (chá, café ou cacau) ou salicilatos (tomate, citrinos, frutos vermelhos ou chá) e estes alimentos podem provocar sintomas em pessoas mais sensíveis, mesmo que ingeridos em pequenas quantidades.
Quando suspeitar de uma alergia alimentar?
A Alergia Alimentar pode causar muitos sintomas diferentes. No entanto, estes sintomas são reprodutíveis, isto é, surgem sempre que o alimento (ou, pelo menos, alimentos da mesma família) é ingerido. Além disso, são frequentemente imediatos, ocorrendo de minutos até um máximo de 2 horas após a ingestão. Em algumas situações, o contacto ou inalação de vapores de cozedura do alimento também podem causar sintomas.
Os sintomas frequentemente afetam a pele. Pode manifestar-se como manchas ou babas/borbulhas vermelhas que provocam muita comichão (urticária) ou como inchaço, habitualmente nos lábios ou olhos. Também podem provocar comichão intensa na boca, vómitos ou cólicas abdominais, causar espirros, comichão nos olhos ou lacrimejo, tosse, chiadeira (“gatinhos”) no peito, ou dificuldade em respirar. Em algumas situações pode ocorrer uma reação alérgica grave (anafilaxia) que envolve vários órgãos em simultâneo, como a pele, o sistema respiratório, o digestivo e/ou o cardiovascular. Nesses casos, pode ocorrer uma queda súbita da pressão arterial, suores, palidez ou perda de consciência. Estas reações colocam a vida em risco.
A Intolerância Alimentar pode manifestar-se de muitas formas diferentes, já que não se trata de uma doença única. Normalmente os sintomas não são reprodutíveis, nem imediatos. Os sintomas mais frequentes são a má-digestão, o enfartamento, barriga inchada, flatulência, azia, falta de apetite, queda de cabelo, olheiras, dores de cabeça, entre outros.
Que alimentos provocam alergia?
Embora uma reação alérgica possa ocorrer com qualquer alimento, os alimentos mais alergénicos e que causam alergia mais frequentemente são:
Em que idade se manifestam as alergias?
A Alergia Alimentar pode manifestar-se pela primeira vez em qualquer idade, embora seja mais frequente nos lactentes e crianças. Infelizmente alguém que previamente tolerava um determinado alimento, pode em qualquer momento da vida tornar-se alérgico.
De uma forma geral, quando surgem alergias alimentares na infância, estas tendem a desaparecer, sobretudo as alergias a leite e ovo. Pelo contrário, a alergia alimentar em adultos tende a manter-se para o resto da vida.
Como diagnosticar?
O diagnóstico de alergia alimentar deve ser feito por um médico especialista em Imunoalergologia. Normalmente baseia-se na combinação de uma história clínica cuidadosa, testes cutâneos, análises de sangue e provas de tolerância oral.
Como viver com alergia alimentar?
A principal forma de lidar com a alergia alimentar é evitar rigorosamente os alergénios implicados, o que inclui leitura cuidadosa dos rótulos, precaver refeições em restaurantes ou preparadas por pessoas alheias, ter especial cuidado na preparação das refeições devido à possibilidade de reações apenas com o contacto ou inalação de vapores da cozedura ou utilização de objetos mal lavados na cozinha.
Ainda assim, por vezes as reações ocorrem inesperadamente. É por isso importante existir um plano escrito de emergência com indicação dos medicamentos a tomar em caso de reação.
Não existe qualquer remédio caseiro ou natural que permita acelerar a resolução da alergia ou resolver os sintomas. O doente não deve também automedicar-se sob pena de poder agravar o seu quadro clínico e colocar a vida em risco.
A plataforma soualergico.com
A única forma de prevenção de reações alérgicas é a evicção alimentar. Contudo, esta exclusão é por vezes complicada pela presença invisível de alergénios em produtos comercializados. Esta situação gera muita ansiedade nos doentes e seus familiares, devido ao receio de ocorrer uma exposição acidental e contribuem para um grande impacto negativo desta doença na qualidade de vida.
Em conjunto com dois alunos do Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Algarve, desenvolvemos recentemente uma plataforma simples e intuitiva que permite uma rápida identificação da presença dos alergénios nos alimentos à venda nas maiores superfícies comerciais.
A plataforma soualergico.com está disponível online e é totalmente gratuita. Permite facilmente criar listas de compras com produtos isentos de alergénios para diversas categorias de alimentos e apresenta também informação adicional acerca de alergia e intolerância alimentar.
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